sábado, 30 de abril de 2011

Presenças da Confraria de Arte



Estivemos presente em abril na Galeria Hiato (R. Coronel de Barros, 38) na exposição do nosso saudoso Dnar Rocha e começamos então uma nova fase em que propomos encontros com a arte e com artistas da cidade. Espero que gostem!



Dia 24, às 16h, estivemos no parque do Museu Mariano Procópio na abertura da temporada 2008 do projeto "Música no Parque", apresentando Café Jazz Trio - formado pelos músicos Rodrigo Mendes, no piano; Mário Mendes, no trompete, e Zé Francisco, na bateria. Participação especial de Salim Lamha, na guitarra.


Dia 29, sexta as 20h estivemos na exposição de Chianello - Rogério de Deus - Clery - na Galeria Helena - Constantino Hotel - R. Santo Antonio, 765 - JF - MG.

Natale Chianello, Rogério de Deus e Clery

Quadros de Rogério de Deus retratando a época dos bondes de JF.

Chianello e Rose Valverde

Luciane, Rose Valverde e Vanêza Lara (Confrades)

Nossa proposta é prestigiar todos os eventos artísticos que acontecem em nossa cidade. Contamos com a presença de todos para compartilharmos bons momentos com muita arte e muita conversa.

Postagem e Fotografia - Rose Valverde


sexta-feira, 22 de abril de 2011

Comentários sobre o Artífice – Capitulo 1 – baixa de motivação e ruptura das habilidades

Nos dias 31/03 e 01/04 realizamos um debate sobre o texto referente ao primeiro cápitulo do livro – O artífice – Baixa de Motivação – pág 38-48. Destacamos alguns pontos:

“O mundo moderno tem duas receitas para suscitar o desejo de trabalhar bem e com afinco. Uma é o imperativo moral de trabalhar pelo bem da comunidade. A outra recorre à competição: pressupõe que competir com outros estimula o desejo do bom desempenho, prometendo recompensas individuais no lugar da coesão comunitária. As duas receitas se têm revelado problemáticas. Nenhuma delas — em sua forma nua e crua — serviu às aspirações de qualidade do artífice.

[...]O mundo de seus pais e avós era de certa forma protegido dos rigores da competição. No século XX, os trabalhadores qualificados de classe média encontravam lugar em burocracias relativamente estáveis que conduziam os empregados por uma longa carreira, da juventude à aposentadoria. Os antepassados das pessoas que entrevistamos trabalhavam duro para conseguir o que queriam; sabiam perfeitamente o que lhes aconteceria se não o fizessem.

Não é mais novidade que esse mundo de classe média desmoronou. O sistema corporativo que outrora organizava carreiras tornou-se um labirinto de empregos fragmentados. E m princípio, muitas empresas da nova economia adotam as doutrinas do trabalho em equipe e da cooperação, mas, ao contrário das práticas que vigoram na Nokia e na Motorola, esses princípios frequentemente são uma farsa. Constatamos que as pessoas davam demonstrações de comportamento amistoso e cooperativo sob o olhar controlador dos executores da vontade do patrão, em vez de — como acontece nas boas empresas japonesas — desafiar e contestar os superiores. Verificamos, como já fizeram outros pesquisadores, que elas raramente consideravam como amigos os colegas de trabalho em equipe. Alguns dos entrevistados se sentiam estimulados por essa competição individualizada, mas a maioria ficava deprimida — e por um motivo específico. A estrutura de recompensas não funcionava bem para elas.”

As relações de trabalho são amplamente questionadas no livro e podemos perceber as diferenças entre os trabalhadores na Russia, na Europa e no Japão. Alguns questionamentos nos instiga a avaliar as relações das empresas e o funcionalismo nos dias de hoje.

“Mas a habilidade não basta para protegê-los. No mercado globalizado de hoje, os trabalhadores qualificados de nível médio arriscam-se a perder o emprego para um concorrente da índia ou da China que tem a mesma qualificação mas trabalha por um salário mais baixo; a perda do emprego não é mais um problema exclusivo da classe operária. Mais uma vez, muitas empresas tendem a não fazer investimentos de longo prazo na capacitação de um empregado, preferindo contratar pessoas que já têm as novas qualificações a enveredar pelo processo mais dispendioso de recapacitação[...]. As empresas que não demonstram muita lealdade para com seus empregados suscitam em troca um baixo grau de comprometimento: as companhias que operavam através da Internet e enfrentaram problemas no início da década de 2000 aprenderam uma dura lição, vendo seus empregados saltarem do barco que afundava em vez de se esforçarem para ajudar na sobrevivência. Descrentes das instituições, os trabalhadores da nova economia apresentam índices mais baixos de comparecimento eleitoral e participação política que os trabalhadores de nível técnico de duas gerações atrás; embora muitos deles se filiem a organizações de voluntariado, são poucos os que participam ativamente. E m seu festejado livro Bowling alone [Jogando boliche sozinho], o cientista político Robert Putnam apontou nesse "capital social" reduzido um resultado da cultura televisiva e da ética consumista; em nosso estudo, constatamos que o distanciamento em relação às instituições estava mais diretamente relacionado às experiências no trabalho.

[...]Do ponto de vista social, em suma, a desmoralização tem muitos lados. Pode ocorrer quando uma meta coletiva de bom trabalho perde o sentido e se torna vazia; da mesma forma, a pura e simples competição pode neutralizar um bom trabalho e deprimir os trabalhadores. Nem o corporativismo nem o capitalismo, como simples etiquetas, atacam a questão institucional. As formas de comunicação coletiva nas fábricas japonesas de automóveis e as práticas de cooperação em empresas como a Nokia e a Motorola levaram à lucratividade. Em outros terrenos da nova economia, contudo, a competição incapacitou e desalentou os trabalhadores, permanecendo

sem recompensa ou invisível o ethos do bom trabalho pelo bom trabalho que orienta o artífice.”

Na reunião do dia 15 de abril discutimos sobre o item “a ruptura das habilidades” pág. 48-57 que fala sobre o que vivemos na era moderna comparando a economia de capacitação com uma prática de “treinamento” o que constrasta com a inspiração. “O atrativo de inspiração está em parte na convicção de que o talento bruto pode substituir o treinamento.”


“Devemos encarar com desconfiança os supostos talentos inatos e sem treinamento. Comentários do tipo "se tivesse tempo, eu escreveria um grande romance" ou "se pelo menos conseguisse me recompor" costumam ser fantasia narcisista. Revisar repetidas vezes uma ação, em contrapartida, permite a autocrítica. A educação moderna evita o aprendizado repetitivo, considerando que pode ser embotador. Temeroso de entediar as crianças, ávido por apresentar estímulos sempre diferentes, o professor esclarecido pode evitar a rotina, mas desse modo impede que as crianças tenham a experiência de estudar a própria prática e modulá-la de dentro para fora.

O desenvolvimento das capacitações depende da maneira como é organizada a repetição. Por isso é que, na música como no esporte, a duração de uma sessão de prática deve ser cuidadosamente pesada: o número de vezes a repetir uma peça não pode ultrapassar o alcance da atenção do indivíduo em determinada etapa. À medida que se expande a capacitação, a capacidade de sustentar a repetição aumenta. Na música, é a chamada regra Isaac Stern, tendo declarado o grande violinista que, quanto melhor a técnica, por mais tempo o músico é capaz de ensaiar sem se entediar. Existem momentos "Eureca!" que soltam as amarras de uma prática que emperrou, mas eles estão incorporados à rotina.”

Em determinado trecho associei ao processo de ensinar em sala de aula o que o autor diz sobre a capacitação: “À medida que uma pessoa desenvolve sua capacitação, muda o conteúdo daquilo que ela repete.”










Perspectiva de Interior feita a mão e colorida no Corel Draw

O autor cita uma comparação feita em relação à desenhos feitos pelo CAD (computer-assisted design: desenho com a ajuda do computador) por uma arquiteta:


"quando projetamos um espaço, desenhando linhas e árvores, ele fica impregnado em nossa mente. Passamos a conhecê-lo de uma maneira que não é possível com o computador. (...) Ficamos conhecendo um terreno traçando-o e voltando a traçá-lo várias vezes, e não deixando que o computador o 'corrija' para nós".[1]

Em relação ao uso do desenho como parte do processo de criação e concretização de projetos o arquiteto Renzo Piano explica da seguinte maneira seu método de trabalho:


"Começamos fazendo esboços, depois traçamos um desenho e em seguida fazemos um modelo, para então chegar à realidade — vamos ao espaço em questão —, voltando mais uma vez ao desenho. Estabelecemos uma espécie de circularidade entre o desenho e a concretização e de volta novamente ao desenho "[2] Sobre a repetição e a prática, observa Piano: "É perfeitamente característico da abordagem do artífice. Ao mesmo tempo pensar e fazer. Desenhamos e fazemos. O ato de desenhar (...) é revisitado. Fazer, refazer e fazer mais uma vez."

Em relação ao superdeterminismo existente em alguns projetos vemos:

[...]Finalmente, a exatidão do CAD traz à baila um problem

a há muito inerente ao desenho de plantas, o do superdeterminismo. Os diferentes projetistas envolvidos na construção do Peachtree Center justificadamente ressaltam com orgulho seus prédios de uso múltiplo, mas essas misturas de funções foram calculadas nos mínimos detalhes; os cálculos levam a uma dedução falsa a respeito do bom funcionamento do objeto concluído. Os projetos superdeterminados deixam de lado aquela irregularidade de texturas que permite, nos prédios, o crescimento e a vibração de pequenos negócios e, portanto, de comunidades. Essa textura resulta de estruturas indeterminadas que permitem que as utilizações sejam abortadas, desviadas ou desdobradas. Fica faltando, assim, a vida informal e tão fácil e sociável

das ruas dos bairros antigos de Atlanta. Uma abrangência positiva do que é Incompleto está necessariamente ausente da planta; as formas são decididas antes do seu uso. Se não chega propriamente a causar o problema, o programa CAD o agrava: os algoritmos fixam quase instantaneamente uma imagem totalizada.

Por isto é que Renzo Piano, projetista de objetos muito complicados, está sempre retornando de forma circular à prática de desenhá-los à mão. As formas abusivas de utilização do CAD bem demonstram que, quando a cabeça e a mão estão separadas, é a cabeça que sofre.

Citamos ainda um trecho sobre padrões conflitantes, pág. 57-65.


“Que queremos dizer quando nos referimos a um trabalho de boa qualidade? Uma resposta diz respeito à maneira como algo deve ser feito, outra, a fazer com que funcione. É a diferença entre correção e funcionalidade. Idealmente, não deveria haver conflito; no mundo real, existe. Muitas vezes adotamos um padrão de correção que raramente é alcançado, se é que chega a sê-lo alguma vez. De forma alternativa, poderíamos trabalhar em função do padrão que é possível, do que é suficientemente bom — mas também aqui podemos acabar na frustração. Dificilmente se pode satisfazer o desejo de realizar um bom trabalho obedecendo à lei do menor esforço. “

Na leitura dessa frase:


“Mais uma vez, a questão é concluir o trabalho para que a peça possa ser usada. Para o absolutista que há em todo artífice, cada imperfeição é um fracasso; para o profissional, a obsessão com a perfeição pode ser a receita do fracasso.”

Deparamos com a diferença de nossas interpretações em relação ao texto, se para mim a obsessão com a perfeição levaria a uma perda material por parte do profissional para a Katia Lopes se tratava de um excesso de detalhes que poderia por a perder o significado da obra. Daí percebemos que mesmo um texto objetivo como o de Richard Sennett pode ser uma rica fonte de discussão e interpretações variadas.

A habilidade é uma prática decorrente de treinamento; a tecnologia moderna está sendo mal empregada quando priva seus usuários precisamente desse treinamento concreto e repetitivo da mão na massa. Quando a cabeça é separada da mão, a consequência é uma deterioração mental — resultado particularmente evidente quando uma tecnologia como o CAD é utilizada para apagar o aprendizado que ocorre no desenho à mão.

[...] temos o problema causado pelas medidas conflitantes de qualidade, uma baseada na correção, a outra, na experiência prática. Elas entram em conflito institucionalmente, como na assistência de saúde, quando o desejo dos reformistas de pôr as coisas para funcionar direito de acordo com um padrão absoluto de qualidade não pode ser conciliado com padrões de qualidade baseados em práticas incorporadas. O filósofo identifica nesse conflito os reclamos divergentes do conhecimento tácito e do explícito; o artífice no trabalho é puxado em direções opostas.

Na realidade o livro é uma motivação para as discussões que ele suscita. É enriquecedor o debate sobre o “fazer” e sobre “como fazer”. O mais importante e estarmos abertos para questionar e perceber outras nuances sobre o processo de criação e da produção artística e isso só poderá nos enriquecer.

Rose Valverde


[1] Sherry Turkle, Life on Screen: Identity in the Age of the Internet (Nova York: Simon and Schuster, 1995), 64, 281n20.

[2] Citado em Edward Robbins, Why Architects Draw (Cambridge, Mass.: MIT Press, 1994), 126.