terça-feira, 9 de março de 2010

Confraria de Arte discute identidade em circuito artístico

Coletivo reúne 21 artistas visuais de Juiz de Fora em exposições e circuito de oficinas durante o mês março

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A identidade está baseada na mais absoluta impossibilidade de se identificar”

João Silvério Trevisan

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Aberta à visitação a partir do próximo dia 10, a exposição Identidade do Coletivo de Artistas Visuais de Juiz de Fora – Confraria de Arte – inicia um circuito artístico que pretende levar à Casa de Cultura, até 31 de março, cerca de 2000 pessoas, que poderão participar de sete oficinas, um debate e uma palestra. A iniciativa, pioneira na cidade, é resultado do projeto “Confraria de Arte”, aprovado pela edição de 2009 da Lei Murilo Mendes de Incentivo à Cultura.

Surgido no ano passado, durante o curso Itaú Cultural de Artes Visuais, o coletivo iniciou discussões acerca da arte local, num intuito de conferir maior força à expressão que representam. “Há uma inegável, e velha conhecida, desunião entre os artistas visuais. Muito se deve ao trabalho solitário realizado em ateliês“ diagnostica Alessandra Fonseca, a Rizza, presidente do Confraria de Arte. “Mas a tentativa de trabalhar em conjunto é mais que necessária num momento em que a cidade cresce e precisa de políticas culturais que solidifiquem a produção, cada vez maior”, completa.

Seguindo a premissa inicial dos encontros semanais realizados pelo grupo, a identificação enquanto indivíduo artístico e de uma possível identidade da arte produzida em Juiz de Fora, a primeira exposição do Confraria leva às galerias da Casa de Cultura da Universidade Federal de Juiz de Fora obras de 21 artistas, dentre os mais de 40 integrantes do coletivo. “Falar de Identidade na arte é tentar classificar o que não pode e não deve ser classificado. Mostramos a vulnerabilidade do que é pré-estabelecido, confirmando a transitoriedade da expressão visual”, constata Wagner de Castro, vice-presidente do coletivo e titular do projeto.

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A multiplicidade de identidades

Grafitti, fotografia, pintura, escultura, instalação, moda e mosaico se encontram numa curadoria coletiva que priorizou o choque de expressões, conferindo ao segundo plano as linguagens (suportes e técnicas). Dessa forma, coexistem num mesmo espaço obras poeticamente e esteticamente semelhantes. “Não deve haver exclusões. Queremos mostrar que os pré-conceitos estão intimamente ligados às inúteis classificações. A fotografia pode estar muito próxima da pintura abstrata, assim como o graffiti pode ter uma relação íntima com a escultura”, afirma Mário Ângelo, fotógrafo e integrante.

Tamanha afinidade é posta em cheque na única obra coletiva, confeccionada a 42 mãos. Trata-se de um quebra-cabeça em que cada peça foi sorteada e distribuída para a confecção individual. Na montagem as peças se completam e a grande tela de 2 metros de largura ganha forma. “Impressionante perceber a força de um trabalho feito em conjunto”, deslumbra-se Wagner Fortes, também integrante.

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A formação de público

Uma das grandes preocupações do Confraria de Arte é o público das artes visuais em Juiz de Fora. Num cenário que cada dia mais, exposições ficam cada vez menos populosas, o projeto não esquece dessa figura principal para o trabalho artístico. De 15 à 31 de março serão oferecidas sete oficinas gratuitas, cada uma com dez vagas disponíveis. O coletivo acredita que com a informação e a aproximação das pessoas, torna-se possível ampliar a freqüência nas galerias.

Ainda no mês de março, dia 19, o historiador e doutorando da PUC-Rio, Sérgio Veloso, ministrará a palestra “Identidades na Arte”, que irá abordar a formação identitária na arte brasileira, tendo como grande marco a Semana de Arte Moderna, em 1922.

Encerrando o Circuito de Arte, no dia 30, haverá um debate com representantes do Confraria e figuras importantes no cenário artístico local, que falarão sobre o tema “Juiz de Fora e a Confraria de Arte”.

Durante os 21 dias em que o coletivo ocupará a Casa de Cultura, a cidade poderá confirmar a velha tese de que a união faz a força. Nesse caso, faz arte. Arte repleta de indetidade(s).

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Mauro Morais

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